quinta-feira, 18 de março de 2010

Violência

Em uma semana assaltaram a minha colega de apartamento, uma senhora na entrada do prédio e um apartamento do outro bloco. De todos eu presenciei da minha janela o assalto a uma senhora aqui no estacionamento do prédio onde moro há sete meses.
Sabe, quando alguém me conta que foi assaltado fico comovida, mas nada se compara a ver algo tão de perto.
Era tudo ou nada, o assaltante parecia não ter nada a perder e é exatamente o que mais me assusta, saber que suas mãos estão dispostas a matar ou morrer, tanto faz, ele não tem mais pelo que lutar se não pela sobrevivência. Mas o que é sobreviver?
Será que é só a falta de oportunidade que transforma a cara de alguém como a que presenciei, um rosto vazio de esperança e morto de sonhos, só se destacava nele os olhos vermelhos por causa de alguma droga e a voz firme ordenando: "me passe o dinheiro! me passe o dinheiro!".
Não sei o que foi pior, presenciar o assalto ou ficar frente a frente com a minha finitude. Meu Deus! eu não pude fazer nada! eu se quer tentei fazer alguma coisa, diante daquele medo que me travou eu só conseguia pensar que se tratava de um pesadelo, que aquilo não era real.
Mais tarde, no entanto, desci as escadas e vi gotas de sangue no chão que escaparam da senhora machucada pela faca que o rapaz trazia na mão. Então não houve dúvidas, aconteceu.
Mas por que aconteceu, eu nem tento responder, aquele rosto é tão distante da minha realidade que eu se quer posso me por no lugar dele, eu não conheço o lugar dele.
É muito fácil culpar alguém, político, pelos problemas de violência. Mas acho que a culpa é minha também, afinal... o que eu fiz para tentar deixar as coisas um pouco melhores? Eu se quer sei o que fazer, tenho medo de entrar na favela cheia de ideias para levar educação e sair com um tiro em qualquer lugar do corpo. Afinal, o que é corpo para eles?
Um lugar pra sentir agulhas, um pedaço de pele, ossos e qualquer coisa que caiba muito desengano e falta de fé? Se eles soubessem o que é um corpo, não se auto-destruiriam. Mas será que é só culpa do prefeito ele está desse jeito? Não, acho que é culpa minha também. O problema é que não faço a menor ideia de como mudar minha rua ao lado, mas vivo fazendo planos sobre como mudar o monte de ruas que é o mundo.

Laryssa Galdino - vãerso mradua.

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