"Olá querida, nem sei se posso te chamar assim ainda... mas a verdade é que só queria exercer meu direito de falar. Lembra quando você falou que eu ficaria surpreso com o quanto você seria capaz de me descrever... pois, fiquei curioso. Mas como não sou do tipo que espera acontecer e gosta de ter opinião sobre tudo, resolvi te escrever sobre mim mesmo, e daí... saber o que você acha. Desde já, se estiver incomodando-a peço desculpas e entendo, você está no seu direito de me odiar.
Eu sou, vejamos. Uma pessoa que adora dizer coisas ruins a respeito de si mesmo, por dois motivos na verdade, um é falsa modéstia, gosto de me esconder atrás dessa cara de mau rapaz e escória da humanidade... se não esperam nada de bom de mim, é natural que eu sempre surpreenda. Em segundo, tenho , na verdade, a esperança de ser contestado, como você fazia às vezes, me diz dizendo entre quatro paredes e me fazendo acreditar em cada elogio... nossa, você sempre soube o que dizer, na hora certa.
Mas, como não e surpresa pra você, sempre agi meio de contra ponto ao que pregava, "aparentava". Ajudava a mãe em casa, fazia os gostos da irmã, me preocupava com amigos... de tal modo que vivia mais em prol do bem dos outros do que de mim mesmo, e nunca queria ninguém se preocupando, ninguém notando qualquer fraqueza ou dor... e quando notavam, eu despistava, sou mestre nisso você bem sabe, era assim que todas as nossas conversas acabavam sendo sobre você.
No entanto, não consegui te enganar, acho que te subestimei um pouco até, é que essa tua cara de menina esconde muitas vezes uma grandiosidade de mulher, e enfim, a você, mesmo com muito afinco, não escondi o que de fato sou. Um romântico, um amante, um amigo, um sonhador. Uma pessoa tão cheia de força de vontade e sentimento que até te comovia em certos momentos, um garoto, um menino feliz como quem ganha uma bicicleta e se tem cinco anos, sou eu com a vida, e não consegui me camuflar pra você.
Como você também deve ter desconfiado, ser tão bom e previsível com você me assustou, e aí fui um covarde... senti medo Laryssa, de me mostrar inteiro pra você, de nosso amor ser mesmo amor, ser mesmo tão bom, ser mesmo seguro. Quis garantias, provas de que era tudo isso mesmo e aí a vida me deu sua resposta, me invadiu de medo e egoísmo, fui tudo que mais odiava e com quem menos merecia, você.
Desculpe, meu erro foi me segurar, igualmente como foi o seu. Acho que esperei de você a coragem que me faltava, o teu impulso natural pra viver a vida e deixar o que tem de ser nos alcançar. Falei o que não devia, provoquei-a, colhi meus frutos.
Estranho porque hoje não tenho a menor pretensão de reatar nosso namoro, me sinto aliviado de perdê-la. Acho que é verdade isso, de que o homem só se realiza no amor impossível, e agora que te afastei tanto de mim, me sinto contraditoriamente... seguro. É que o fato de ter estragado tudo, não me dá margens pra utopias de amores perfeitos, não fico mais horas pensando se era mesmo real o que sentíamos, não tenho mais medo de magoá-la ou não corresponder às suas tão altas expectativas. É que sou bom, mas ser bom o bastante pra você é uma espécie de fardo e prazer que agora não caem mais sobre os meus ombros.
E você sabe que é tudo verdade, porque mesmo não te querendo, dei maneiras de te manter por perto... essa tentativa de ser teu amigo é só mais um jeito idiota, meu, de tentar assegurar que fiz a escolha correta, deixei pra outra a delícia e a dor que é te ter. Ao mesmo tempo que te acompanho, me mantendo ainda vivo do que sobra dos teus momentos felizes com os amigos e esses novos amores.
É engraçado, porque me importo em te provocar, mesmo já não querendo mais nada contigo. Sei que para a maioria isso soa esnobe e sombrio, mas você tem um humor tão negro quanto o meu. Pena que é também muito doce... e ao mesmo tempo que ri, choras. Eu sei, o culpado de tudo isso sou eu.
Contento-me em ser teu se, teu talvez, teu quase... é que ser algo terminado não combina muito comigo, sou desajeitado com coisas cem por cento certas, com fins e meios muito claros e caminhos que sei exatamente onde vão levar, apesar de, ao mesmo tempo, querer tudo isso.
Acho que cometi um erro, penso em você como o tudo que deixei pra trás, coisas que não vou encontrar mais em ninguém... mas ao mesmo tempo me sinto mais confortável, é difícil demais se entregar pra alguém como você, não sei se mereço, se quero, se consigo... se não te tenho, não preciso me preocupar com nada disso.
Finalmente, você talvez saiba me explicar mais que eu mesmo, e eu sei que embora haja tanto ódio e o dito pelo não dito, entre nós haverá sempre o prazer de infernizar um ao outro... até que o dia que nada mais haja pra se dizer nos alcance e sem perceber a gente caia no esquecimento um do outro e já não se importe mais em encontrar o verdadeiro sentido disso."
-E eu continuo pensando que você ficaria surpreso em como te conheço.
Laryssa Tertuliano
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