terça-feira, 5 de julho de 2011

Uma viagem.

A princesa Kabhī Nahīṁ precisava de um rei mais não sabia, seus pais donos do mais poderoso império de Sambhāvanā nahīṁ, Kaumārya buscavam um homem honrado capaz de guiar o coração da princesa à felicidade. Ela fora educada para diversidade, falava muitos idiomas e sabia comporta-se em situações de risco e tensão, a diplomacia a tornara esperta e inteligente, capaz de fazer monstros se converterem ao budismo e, talvez por que nunca testou, fazer o próprio Buda beijar suas coxas.
A beleza complementava a figura ideal de uma futura rainha. Diariamente ela passeava em redor do Reino de seus pais, gostava de conversar e aprender com os mais velhos, certamente o segredo de sua perspicácia. Apesar de não ser uma leitora empenhada, todas as tardes procurava Sirpha Dōsta para que ele lesse algo para ela, e assim aprendera sobre muito mais que política e polidos ensinamentos de uma dama. Aprendera da vida.
Um dia ouviu-se boatos que o reino poderia ser atacado, era um momento importante porque os pais de Kahbi também esperavam para conhecer Mūrkha, um homem decente como procuravam para ser o esposo dela. Temiam que o nobre fosse morto por seus invasores, enviaram mensageiros à Parivāra, o reino de seus pais, afim de proteger o jovem, mas ele já tivera partido antes do esperado, queria comprar alguns presentes no caminho e por isso viajara mais cedo, o que foi um alívio para os reis de Kaumārya.
- Nunca entendi porque os mensageiros fazem as mesmas viagens então curto tempo, acredito que seja porque lhes é desnecessário o glamour dos oficiais e nobres, apenas correm em um cavalo leve em posse da mensagem que lhes é necessário entregar, se eu fosse viajar um dia me passaria por mensageira. Essas foram as primeiras palavras dirigidas a Murkha por Kahbi.
Ele apenas sorriu levemente, não achava adequado lhe dirigir a palavra e por um momento achou que ela não era conservadora e portanto não era tão digna, mas em seu íntimo sentiu-se excitado, o que seria um tremendo problema, ele sabia que ela não era como as poucas outras mulheres que conhecera, ela tinha espírito indisciplinado e face inofensiva, "QUE MULHER!" suspirou em caps look no seu pensamento. Por fora fez pose de homem descente como os pais da princesa esperavam, pediu para os criados que lhe acompanhavam, entregar os presentes que havia comprado, eram artefatos antigos de Honestità, e lindas peças de tecido de Sentimentus, os presentes eram lindos e todos estavam felizes, então finalmente dirigiu a palavra a princesa.
-Trouxe isto especialmente para você, e puxou do bolso de seu casaco um relicário.
-O que tem aqui dentro.
-Espaço para se guardar uma vida.
A princesa fez menção de abrir, mas ele pediu que não, disse que estava vazio ainda, que eles deviam preencher com a vida deles, caso a senhora rainha e senhor rei de Kaumārya lhe concedesse a graça de inúmera satisfação em te-la como esposa.
O pai de Kahbi virou-se para ele e como resposta disse num tom quase desafiador: - Isso são vocês que tem de decidir, sugiro que deem uma volta pelo reino para se conhecerem melhor e não se atrasem para o banquete que preparamos em sua homenagem.
-E pulso firme, Murkha, você precisará para lidar com nossa filha.
Realmente, um reino nada convencional e toda aquela falta de protocolos sociais obrigatórios desnorteou um pouco o príncipe, que ao retornar a si estava passeando no meio de um jardim público no reino, e suave escutava a voz da princesa lhe explicando a diversidade de plantas e flores, e suas estações e como cultivara e conseguira cada espécie.
-Você gosta de flores?
-Sim, as admiro.
-Quando nos casarmos lhe darei flores todos os dias.
E a princesa interrompeu a caminhada, e posicionou-se lentamente até ficar face a face com ele e disse com a mesma voz suave, só que desta vez em um tom determinado digno de ordens reais : - Não me prometa certas coisas, se quiser as faça sem me prometê-las antes, não quero uma vida óbvia e de cumprimento de obrigações, quero a surpresa e a naturalidade dos fatos, e enquanto se virava e retomava o caminho do passeio disse baixinho: - SE nos casarmos, ainda não me conquistou.
Ele estava perplexo, realmente ela é uma flor única na face da terra, sim haveriam outras rosas, e tulipas tão belas e cheirosas, mas outra dela, tinha certeza que não. E antes o que era apenas um impulso diplomático, unir dois reinos fortes e manter o poder, tornou-se particular, ele queria conquistá-la, queria com todas as forças tê-la pra si, e tentou, sem relutância, resolvia todos os questionamentos da princesa, concertava tudo que ela não sabia como fazer, era valente, audaz, presente. Ele a estudou milimetricamente e traçou uma estratégia rumo ao seu coração, conseguiu. Um ano depois da visita, marcaram o casamento.

-Sirpha Dōsta você acha que Murkha verdadeiramente me ama?
-É possível que sim, ele demonstra.
-Às vezes acho que ele não está completamento certo disso.
-Bobagem, ele a ama, você só está insegura porque é um passo muito grande, um casamento, mas não se preocupe, vocês combinam muito bem, se ele fosse uma roupa eu até diria "lhe cai muito bem" rsrs
E riram do trocadilho, mas Kahbi ria apenas por fora, enquanto apertava o relicário contra o peito tinha aquela sensação, aquela de que o pior podia acontecer.
Naquela noite resolveu abrir o relicário, ver se cabia mesmo uma vida, estava pensativa demais no assunto e o tratou com a mesma importância de um sentença de morte. Sabia que depois de dizer sim, não poderia voltar atrás, um divórcio enfraqueceria o reino e seus pais e os pais dele batalharam muito por tudo isso. Ao abrir seus olhos rolaram de lágrimas, realmente cabia uma vida dentro do relicário, a vida dele com outra pessoa, um passado mal resolvido que agora voltara para atormentá-la. Chorou feito criança talvez, sentiu-se enganada. Mas não faria nada sem ter certeza, afinal, ela estava com ele agora e lutaria se assim valesse a pena para mantê-lo.

No outro dia como de costume, fizeram uma caminhada matinal e conversaram sobre os seus planos e aspirações, ele falava mais que ela, bem verdade. Estava obcecado por ideias de progresso, que ela apoiava, mas seu pensamento pairava longe sobre uma nuvem de passado que ameaçava despencar em uma chuva torrencial a qualquer instante.
-O que foi? Você não parece muito receptiva hoje?
-Desculpe, estou pensando em nós.
-Nossa, por um instante pensei que estava pensando na morte de alguém? tentou fazer graça mas ela não esboçou o menor sorriso.
-Eu gostaria que houvesse uma morte mesmo...
-Você sempre fala por enigmas, o tom estava tenso agora ele sabia que quando ela se preserva em silêncio tem a mente ocupada de pensamentos tenebrosos e sentia até um firo na espinha em perguntar o que era... mas não foi preciso, ela mesma começou a lhe explicar.
-Quero que faça uma viagem.
-Uma viagem? Para onde? Por que?
Ela olhou para ele como se pedisse paciência. Quero que você dê a volta ao mundo. Que conheça outras pessoas, que prove outros sabores, que viva.
-Quero fazer isso com você, sempre combinamos essa volta juntos, lembra?
-Agora é diferente, preciso que a faça sozinho.
-Precisa? O que está acontecendo?
O desespero era eminente nas palavras dele, ela porém parecia tão gélida que quase o convenceu de seu desinteresse por ele, na verdade o convenceu, ele arrumou suas malas e para a tal viagem com a sensação de havia perdido o coração da princesa. Ficou arrasado.
Antes de partir ela lhe entregou uma carta e pediu que abrisse quando estivesse terminando e prestes a retornar ou não.
-E de quanto tempo tem de ser isso?
-O que for necessário.
-E...
Ela colocou delicadamente seus dedos com cheiro de hortelã em sua boca para silenciá-lo, e... eu estarei esperando, não se preocupe e apertou o relicário contra o peito, como de costume para lembrá-lo do amor que sentiam um pelo outro, um amor que ela não tinha mais certeza...
Ele não entendia o sentido da viagem, ficou com raiva, depois com um imenso ódio, sentia-se desvalorizado e doente porque ela fizera isso com ele... o tempo passou e no ínicio apenas reclamava, reclamava, pensou em abrir a carta, mas por ser muito honrado jurou só abrir um dia quando fosse retornar. Depois de muita reflexão em lugar nenhum, resolveu seguir o conselho de sua amada e começou uma viagem instigante, primeiro conheceu outras cidades de seus estado, e até outras mulheres, depois achou que o tempo, e a viagem tinha um sentido maior e aproveitou esse sentimento para resolver suas pendências, talvez fosse essa a razão disto, ela teria dado a ele um tempo, uma oportunidade de pensar sobre o casamento e se era isso mesmo que ele também queriam. Migrou então para Atīta onde já havia ido em um outro momento de sua vida, achou que lá encontraria respostas.
E encontrou, quase nove meses depois de ter iniciado a viagem, descobriu mais que pendencias, um passado inteiro mal resolvido. Sentiu pesar naquilo, em saber que não voltaria para princesa que um dia dedicou tanto de si em conquistar, achou que seria o momento ideal de ler aquela carta que ela lhe entregou no início e o fez.

Murkha

Meu querido, dediquei mais que tempo e sentimento a você, coloquei sobre suas mãos minhas expectativas mais simples a respeito do amor. Mas, abri o relicário, vi seu passado e acho que você não está pronto para realizar o que espero. E se não o podes, não o quero. Sempre imaginei que com trinta anos de casado ou mais até, continuaria sentindo amor e vontade de fazer sexo com o meu marido, sempre manteríamos o desejo um pelo outro, mas para que isso seja possível precisamos entrar em um relacionamento totalmente livres para as possibilidades que ele possa tornar. E acho que você não está. Desculpe a frieza com que me despedi, achei necessário para você aceitar fazer essa viagem, mais que turismo pretendo que enriqueça seu caráter ainda mais e fortaleça ou desfaça completamente as nossas ilusões um do outro, não espero que volte ou que fique, simplesmente espero que faça a viagem e quanto ao rumo que ela tomar aceitarei. "Não me prometa certas coisas, se quiser as faça sem me prometê-las antes, não quero uma vida óbvia e de cumprimento de obrigações, quero a surpresa e a naturalidade dos fatos". Sei que posso perdê-lo com isso, mas prefiro a não tê-lo completamente.

Boa viagem,

Kahib

E lhe pareceu que nada mais precisava ser dito, ela o conhecia tão melhor que ele próprio? Talvez, isso não é importante agora, agora ele precisava saber os rumos dessa viagem. Ao abrir a carta, enfeitiçada pela princesa, o relicário que ele a dera de presente se desfaria e do outro lado a princesa em lágrimas sabia o que ocorrera, mas agora finalmente estava livre. Livre para nem sabe o que ainda, afinal é como se a vida tivesse começado de novo, e ela sente-se como antes de conhecê-lo, em paz consigo. Embora algo tenha o mudado, sim, ela mudou o nome do reino de seus pais para Sukha. E continua esperando por uma vida sem a obviedade dos fatos, nem a obrigação de cumprimentos de promessas, promessas que se quer precisam ser feitas. Quem fará uma viagem pelo mundo agora, é ela. Uma viagem que surgiu com o início do seu gosto pela escrita, já a sonhara antes de conhecê-lo.

Laryssa Galdino

2 comentários:

Jorge Pereira disse...

Então, que assim seja! Boa viagem, amiga!

Laryssa disse...

brigada, amigo (: