terça-feira, 3 de agosto de 2010

Primeiro emprego.

Ela estava preocupada, agora que terminou os estudos e não passara no vestibular sentiu que seria um momento oportuno para arrumar um emprego. Mas em que seria? Reginelda tinha quase 18 anos e nunca trabalhou em nada, de origem mediana, graças a Deus sua preocupação era estudar e apesar de ter estudado muito não conseguiu vencer a concorrência para direito, que nem era mesmo o que ela queria fazer, mas como todo mundo só considera que alguém tem futuro se faz medicina, direito ou engenharia... ela escolheu direito.
Em seu íntimo estava aliviada por não ter passado, e por ser um curso concorrido todos entenderam que ela, apesar de inteligente, não tenha conseguido. Mas nem por isso a cobrança foi menor. Os pais e a avó que sempre estava presente em todas as discussões de sua vida, sugeriram que ela já não era mais nenhuma menina para ficar sendo sustentada. Foi então que ela sentiu convicção de que realmente precisava começar a trabalhar, o que ela não sabia mesmo era por onde começar.
Em uma sala sombria de 3mX4m uma mulher sentada por trás de um birô branco sem graça levantou a cabeça para a menina, que aparentava muito menos de 17 , e perguntou-lhe com uma voz enjoada:
-Nome?
-Reginelda, disse a menina um pouco trêmula mas tentando parecer confiante.
-Só Reginelda? Replicou a mulher agora de cabeça baixa anotando as coisas que perguntava à menina.
-Reginelda Brizola da Silva, ela respondeu com um pouco de raiva.
-Olha, a mulher falou com um tom como se fosse esclarecer algo a Reginelda, a vaga é para maiores de quinze anos...
-Mas eu tenho 17!
Interrompeu Reginelda.
-17?! Com total espanto exclamou a mulher! e comentou tentando fazer uma graça com a menina:
Reginelda fez uma cara de paisagem ela já sabia o comentário por vim:
"Quando você estiver velha ainda vai parecer nova" O pensamento e a voz da mulher se confundiram nesse instante.
-Agora que sabe minha idade eu posso ter o emprego?
-Ah, na verdade é um pouco mais complexo do que você imagina. Mas não se preocupe, você será convidada para uma entrevista assim que vagas com seu perfil surgirem.
Reginelda então deu um suspiro e disse meio desacreditada:
-Obrigada então, posso ir agora?
-Sim claro, mas antes dê-me seu e-mail.
Reginelda rabiscou o endereço eletrônico e deslizou até a porta vermelha que há um instante entrara. "Agências de emprego deveriam ser mais amigáveis" pensou Reginelda enquanto descia as escadas em direção à praça de crisântemos que já existia há mais de trinta anos em sua cidade.
A primeira semente fora plantada em 1965 por um jovem apaixonado que jurou amor eterno a sua namorada no lugar onde hoje é a praça, logo após ele foi exilado para fora do Brasil por ter sido um forte opositor ao regime militar, dez anos mais tarde de plantar a semente, o rapaz, agora um homem, se reencontrou com sua amada no mesmo local e a pediu em casamento e 20 anos depois, (1985) a filha do casal acabara de ter a primeira experiência frustrante na vida dos adultos. Reginelda se aproximou de um banquinho, sentou e enquanto acariciava uma das flores perguntou:
-Quando você nasceu, sabia que ia fazer tanto sucesso nessa praça, florzinha?


Laryssa Galdino Tertuliano

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